DeepSeek: entenda o que é a inteligência artificial chinesa e seus diferenciais
DeepSeek: entenda o que é a inteligência artificial chinesa e seus diferenciais
Especialistas em tecnologia explicam o que é a DeepSeek e seus diferenciais em relação aos modelos de inteligência artificial estadunidenses
Em 29/01/2025 13h46
, atualizado em 29/01/2025 15h30
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A DeepSeek, startup de inteligência artificial chinesa, chamou a atenção do mundo ao lançar um aplicativo gratuito de chatbot semelhante ao popular ChatGPT. Esse lançamento tem gerado debates acerca dos investimentos em tecnologia, a ameaça da hegemonia de gigantes empresas do setor e o aumento da competitividade no mercado de Inteligência Artificial (IA).
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O investimento utilizado para o treinamento da aplicação da DeepSeek gira entorno de US$ 6 milhões, valor expressivamente menor do que os US$ 100 milhões aplicados para treinar modelos semelhantes de iniciativas estadunidenses como da Meta e OpenAI. Nesse sentido, o fato levantou a discussão sobre os custos das soluções tecnológicas que envolvem IA.
A chegada da DeepSeek causou impacto profundo no mercado financeiro justamente pelo baixo custo e performance comparável às tecnologias concorrentes, afirma Arthur Igreja, especialista em tecnologia e inovação. Com isso, questiona-se à eficiência das empresas já estabelecidas em relação aos investidores.
Ações americanas de empresas de tecnologia chegaram a perder um valor de US$ 1 trilhão na segunda-feira (27) após a disponibilidade do sistema da DeepSeek. Um dos fatores que explica este impacto se refere ao fato das empresas de tecnologia lidarem com um novo competidor que consegue resultados semelhantes a um custo muito menor, causando uma redução na perspectiva de lucro das empresas estadunidenses, considera Anderson Soares, coordenador do curso de Inteligência Artificial da Universidade Federal de Goiás (UFG).
A DeepSeek é uma startup chinesa do ramo de inteligência artificial. O lançamento de seu aplicativo que funciona como o ChatGPT, o chatbot da OpenAI, chamou a atenção do mundo e se tornou o app mais baixado nos Estados Unidos. Confira o comentário do especialista Arthur Igreja no vídeo abaixo:
As aplicações da DeepSeek, assim como o ChatGPT, Gemini (Google), Llama 3 (Meta) e o Claude (Anthropic)são conhecidos como LLMs (do inglês, Large Language Models), isto é, modelos de linguagem em grande escala. A equipe de Tecnologia da Informação do Brasil Escola explica que os LLMs são modelos de IA treinados em grande quantidade de dados textuais, o que permite a compreensão e geração de linguagem natural de forma coerente e contextualmente relevante.
"O surgimento de iniciativas como a DeepSeek, a meu ver, sinaliza uma possível transformação no cenário global. Essa nova concorrente das big techs dos EUA traz à tona discussões essenciais sobre ética, transparência e, acima de tudo, sustentabilidade. A quantidade de recursos naturais que se utiliza para colocar IA em funcionamento é assustadora (o ChatGPT gasta uma garrafa d’água a cada 100 palavras geradas)."
Prof. Dr. Paulo Boa Sorte - Universidade Federal de Sergipe (UFS)
Entre as atividades que podem ser realizadas pela DeepSeek, estão: responder a diferentes tipos de perguntas, redigir textos, auxiliar na programação e traduzir idiomas. Um diferencial da IA nestas tarefas é a proximidade do resultado com o trabalho realizado por seres humanos.
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Baixo custo da DeepSeek
Os custos consideravelmente menores da DeepSeek são explicados pela estratégia de treinamento que a empresa chinesa utilizou em sua tecnologia, explica Arthur Igreja. Pelo fato de utilizar um código aberto, a DeepSeek usa menos parâmetros e necessita de menos poderio computacional para processar o aprendizado. “É um algoritmo completamente diferente” dos demais, afirma o especialista.
Mesmo com o custo menor, o desempenho do modelo DeepSeek-R1 é equivalente ao apresentado por um de seus principais concorrentes, o OpenAI o1, conforme apresenta testes entre funções das tecnologias.
Arthur Igreja, especialista em Tecnologia e Inovação.
Crédito: Fernando Tiegs.
Modelo de código aberto da DeepSeek
Uma grande diferença da DeepSeek com as demais tecnologias de IA semelhantes é o uso de código aberto. Isso quer dizer que o código-fonte é disponibilizado para o público, ou seja, os usuários têm o à estrutura da programação do sistema. Entretanto, isso não quer dizer que ele não tenha direito autoral, já que o mesmo é licenciado, afirma Arthur.
O coordenador do curso de Inteligência Artificial da Universidade Federal de Goiás (UFG), Anderson Soares, faz uma analogia a respeito do código aberto, é como se "o fabricante de um medicamento que é novidade do mercado revelasse todo o segredo industrial sobre como obter aquele fármaco em outra indústria".
A forma de utilizar esse código depende da licença estabelecida. Ele pode servir como ferramenta de estudo e exploração para avanços e evoluções nesse tipo de tecnologia.
O código aberto provoca a descentralização do conhecimento, "democratizando o o e possibilitando que mais pessoas participem do desenvolvimento da tecnologia", afirma o professor Paulo. O educador aponta ainda o alto investimento da China em formação de pessoas com a disponibilidade de verba para pesquisa e desenvolvimento científico. Com isso, um dos grandes diferenciais, na opinião de Boa Sorte é o foco da DeepSeek na formação de profissionais qualificados em IA, "o que fortalece o ecossistema e amplia oportunidades de inovação".
Prof. Dr. Paulo Boa Sorte da UFS (à esquerda) e prof. Dr. Anderson Soares da UFG (à direita).
Crédito: Acervo Pessoal
Efeitos da DeepSeek
Com o lançamento da DeepSeek, o cenário do mercado de IA se acirra com a competitividade entre as empresas. As Big Techs como Google, Meta e OpenAI assumiram a liderança no desenvolvimento de modelos LLMs e podem ser ameaçadas pela iniciativa chinesa.
Sistemas de Inteligência Artificial tem impactado cada vez mais o setor de tecnologia global.
Crédito: Shutterstock.
Um efeito imediato causado pelo lançamento da DeepSeek, destaca o especialista Arthur Igreja, refere-se ao potencial da China. Igreja deduz que haverá uma pressão para reduzir os custos das licenças diante da maior competitividade de soluções tecnológicas de IA.
A equipe de TI do Brasil Escola evidencia também que o caso da DeepSeek provoca um questionamento acerca da eficácia das sanções dos Estados Unidos em relação à restrição do o da China aos chips avançados no desenvolvimento de IA. Isso porque a startup DeepSeek conseguiu sucesso em seu modelo utilizando recursos de hardware menos avançados.
Na perspectiva do professor Paulo Boa Sorte, a entrada da DeepSeek no mercado sinaliza para um aumento de competitividade, ao mesmo tempo em que "abre espaço para uma abordagem mais descentralizada no desenvolvimento da IA.".