Dias Gomes, membro da Academia Brasileira de Letras, é autor de uma vasta obra, incluindo: 133263
Extremamente crítica e contestadora, muitas de suas obras foram censuradas pela Ditadura Militar brasileira, pois seu teor confrontava e ridicularizava o autoritarismo, ao o que também ousava em relação à representação dos costumes sociais da época.
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Alfredo de Freitas Dias Gomes, conhecido como Dias Gomes, foi romancista, contista e teatrólogo. Filho do engenheiro Plínio Alves Dias Gomes e de Alice Ribeiro de Freitas Gomes, nasceu em Salvador, Bahia, em 19 de outubro de 1922. Fez o curso primário no Colégio Nossa Senhora das Vitórias, dos Irmãos Maristas, e iniciou o secundário no Ginásio Ipiranga. Em 1935, mudou-se com a família para o Rio de Janeiro, onde prosseguiu o curso secundário no Ginásio Vera Cruz e posteriormente no Instituto de Ensino Secundário.
Muito precoce, escreveu seu primeiro conto quando tinha 10 anos de idade e sua primeira peça teatral quando tinha 15 anos. Essa peça, intitulada A comédia dos moralistas, foi vencedora do concurso literário promovido pelo Serviço Nacional de Teatro e pela União Nacional dos Estudantes (UNE). Fez o curso preparatório para o curso de Engenharia em 1940 e, no ano seguinte, para o curso de Direito. Em 1943, ingressou na Faculdade de Direito do Estado do Rio, abandonando-a quando estava no terceiro ano de faculdade.
Em 1942 estreou no teatro profissional com a comédia Pé-de-cabra, encenada no Rio de Janeiro e depois em São Paulo por Procópio Ferreira, com que viajou por todo o país. Posteriormente, assinou contrato de exclusividade para a montagem de várias peças com Procópio Ferreira.
Em 1944, trabalhou na Rádio Pan-Americana, em São Paulo, fazendo adaptações de peças, romances e contos para o "Grande Teatro Pan-Americano". Nessa mesma época, além de teatro, ou a escrever romances. Regressou, em 1948, ao Rio de Janeiro, onde ou a trabalhar em importantes rádios, como Rádio Tupi e Rádio Tamoio (1950), Rádio Clube do Brasil (1951) e Rádio Nacional (1956).
Casou-se, em 1950, com Janete Emmer (Janete Clair), autora de telenovelas, com quem teve cinco filhos. Em fins de 1953, viajou à União Soviética com uma delegação de escritores, para as comemorações do 1º de Maio. Ao voltar ao Brasil, como represália, foi demitido da Rádio Clube, além de que seu nome foi incluído em uma espécie de "lista negra".
Em 1959, escreveu a peça O pagador de promessas, obra que deu a Dias Gomes projeção nacional e internacional. A peça, traduzida para mais de uma dúzia de idiomas, foi encenada em praticamente todo o mundo. Adaptada pelo próprio autor para o cinema, O pagador de promessas, dirigido por Anselmo Duarte, recebeu, em 1962, a Palma de Ouro no Festival de Cannes.
Em 1964, em razão da vigência do Ato Institucional nº 1, Dias Gomes foi demitido da Rádio Nacional. Após esse fato, participou de diversas manifestações contra a censura e em defesa da liberdade de expressão. Várias de suas peças foram censuradas durante a vigência do regime militar, como as peças:
Fez parte do conselho de redação da Revista Civilização Brasileira, em 1965. No ano de 1969, foi contratado, para a produção de telenovelas, minisséries e seriados, pela TV Globo, onde também produziu as chamadas telepeças.
Em 1980, em razão da instituição da Anistia, foi reintegrado aos quadros da Rádio Nacional, e peças de sua autoria, como Roque Santeiro, foram liberadas para apresentação. No dia 16 de novembro, faleceu sua esposa.
Em 1984, Dias Gomes casou-se com Maria Bernardete, com quem teve duas filhas. Em 1985, criou e dirigiu, até 1987, a Casa de Criação Janete Clair, na TV Globo. A novela Roque Santeiro foi levada ao ar pela TV Globo, após 10 anos de censura.
Ao longo de sua carreira, Dias Gomes conquistou numerosos prêmios por sua atuação no rádio e por sua obra para teatro, cinema e televisão. Faleceu no dia 18 de maio de 1999, em São Paulo.
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Publicada em 1962, a peça O bem-amado é uma sátira à política e aos costumes brasileiros. Ambientada no interior da Bahia, seu enredo gira em torno de Odorico Paraguaçu, ambicioso prefeito de Sucupira, cujo maior feito istrativo foi a construção de um cemitério.
Entrentanto, essa obra torna-se inócua, já que não ocorre nenhuma morte no local há um certo tempo, o que a a angustiar o populista agente público, já que precisa inaugurar o cemitério por meio do enterro de alguém. Decide, então, encomendar um morto de outra localidade.
A partir daí, a trama sucede-se com tons de humor, ironia, crítica social e política à demagogia político-eleitoreira, característica muito comum nos regimes autoritários, como o implantado pela Ditadura Militar brasileira. Veja um trecho dessa obra em que o prefeito dialoga com sua secretária sobre a frustração por não ocorrer mortes em Sucupira.
DOROTÉA – Não há ninguém doente na cidade?
ODORICO – Em estado de dar esperança, parece que ninguém. Em todo caso, mandei o coveiro fazer uma verificação.
DOROTÉA – Quase todo ano há sempre um veranista que morre afogado.
ODORICO – Este ano o mar está que é uma lagoa. Nunca vi tanto azar.
Dias Gomes foi eleito imortal da Academia Brasileira de Letras em 11 de abril de 1991. Foi o sexto ocupante da Cadeira 21, vindo a suceder o escritor Adonias Filho. Foi recebido, em sua posse, pelo ilustre acadêmico Jorge Amado, em 16 de julho de 1991.
Por Leandro Guimarães
Professor de Literatura
Fonte: Brasil Escola - /biografia/alfredo-freitas-dias.htm