A falência é o livro mais famoso da escritora Júlia Lopes de Almeida. Conta a história de Camila, uma mulher burguesa, casada com Francisco Teodoro (um rico empresário) e amante do doutor Gervásio. No entanto, com a falência e o posterior suicídio do marido, ela precisa recomeçar. 2f39y
A narrativa está situada na última década do século XIX, no Rio de Janeiro, e mostra os primeiros anos após a Proclamação da República. Assim, com uma linguagem objetiva e antirromântica, apresenta uma visão realista sobre a sociedade da época e, também, traços naturalistas, como o determinismo.
Veja também: O Ateneu – romance naturalista de Raul Pompeia
A falência é um romance realista-naturalista de Júlia Lopes de Almeida.
A obra trata de temas como adultério, crise financeira e autonomia feminina.
A narrativa se a no Rio de Janeiro, na última década do século XIX.
Ambientado durante a República da Espada, o livro evidencia os valores da época.
Suas principais características são: objetividade, antirromantismo e determinismo.
Baronesa da Lage
Camila: esposa de Teodoro
Carlotinha: filha de Inácia
Catarina: irmã de Rino
D. Emília: mãe de Camila e Sofia
Dionísio: criado da família
Francisco Teodoro: marido de Camila
Gama Torres
Gervásio: médico da família
Inácia Gomes
Inocêncio Braga
Isidoro
Itelvina: tia de Camila
Joana: tia de Camila
Joaquim: caixeiro
Joca: irmão de Camila
Judith: filha de Inácia
Lélio Braga: maestro
Lemos: comendador
Lia: filha de Camila e Teodoro
Luiza: amante de Mário
Mário: filho de Camila e Teodoro
Meireles: pai de Paquita
Mota: ajudante de guarda-livros
Negreiros
Nina: filha bastarda de Joca
Noca: “mulata antiga na família”
Paquita: irmã da baronesa
Raquel: filha de Camila e Teodoro
Ribas
Rino: capitão
Ruth: filha de Camila e Teodoro
Sancha: “a negrinha órfã que d. Itelvina explorava nos arranjos da casa”.
Sofia: irmã de Camila
A história começa no ano de 1891. Assim, é narrada cronologicamente, apesar de apresentar, também, lembranças do ado de Teodoro.
A narrativa se a na cidade do Rio de Janeiro, mas também menciona o estado de Sergipe, onde moram os pais de Camila.
Veja também: Angústia: romance de Graciliano Ramos
Em 1891, Francisco Teodoro é dono de um armazém que estoca café. É casado com Camila. Eles fazem parte de uma família burguesa do século XIX. No entanto, o narrador mostra que há certa intimidade entre Camila e o doutor Gervásio. Quando o médico traz um livro para Camila e diz que se trata “de um amor um pouco parecido com o nosso”, ela reage assim:
“— Então não leio. Sei que está cheio de injustiças e de mentiras perversas. Os senhores romancistas não perdoam às mulheres; fazem-nas responsáveis por tudo — como se não pagássemos caro a felicidade que fruímos! Nesses livros tenho sempre medo do fim; revolto-me contra os castigos que eles infligem às nossas culpas, e desespero-me por não poder gritar-lhes: hipócritas! hipócritas! Leve o seu livro; não me torne a trazer desses romances. Basta-me o nosso, para eu ter medo do fim.”
Nesse ponto, percebemos uma postura mais “feminista” de Camila, que busca igualdade nas relações:
“— Remorsos... remorsos de quê? Pensa, Gervásio, que, desde o primeiro ano de casado, o meu marido não me traiu também? Qual é a mulher, por mais estúpida, ou mais indiferente, que não adivinhe, que não sinta o adultério do marido no próprio dia em que ele é cometido? Há sempre um vestígio da outra, que se mostra em um gesto, em um perfume, em uma palavra, em um carinho... Eles traem-se com as compensações que nos trazem...”
Teodoro quer que o filho Mário, com 19 anos, comece a trabalhar, e pensa em casar Nina com o capitão Rino, “apesar da procedência”, já que a mãe de Rino foi assassinada pelo marido, por cometer adultério. É importante dizer que Nina é filha ilegítima de Joca, irmão de Camila.
Em conversa com dona Joana, a tia extremamente católica de Camila, Gervásio descobre que ela sabe do caso entre ele e a sobrinha. Segundo a velha, o “único cego ali é o pobre do marido” e “toda a gente sabe, infelizmente”. Já Camila, ao pedir que o filho abandone a amante, percebe que Mário também sabe de seu caso com Gervásio.
O filho, então, diz que a mãe precisa escolher entre o médico e ele. Diante do choro dela, ele se arrepende do que disse, apesar de odiar o doutor Gervásio. Assim, essa família vai vivendo, aparentemente feliz, enquanto Francisco Teodoro enriquece mais e mais, pois o preço do café está em alta.
Incomodado com o fato de Mário ficar até tarde na rua, o pai dá ordens a Noca, a Dionísio e “a todos os criados” para não deixarem o rapaz entrar. Contudo, quando Mário chega, debaixo de um temporal, sua prima Nina desobedece ao tio e abre a porta para o rapaz. Ela ama o primo, mas ele não pensa em ter nenhum compromisso sério com ela.
Os pais do rapaz arranjam um casamento entre Mário e Paquita. Eles se casam, para a infelicidade de Nina. Em seguida, Gervásio informa a Camila que Teodoro faliu. O marido não a a humilhação e se mata. Assim, a família de Camila fica pobre, dispensa os criados e se muda para uma casa simples.
Diante dos acontecimentos, Nina assume o protagonismo, pois cuida de todos os aspectos práticos, enquanto Camila se mostra perdida. Quando Camila encontra uma solução, ou seja, casar-se com Gervásio, ela descobre que o médico já é casado. No entanto, isso serve para fazer Camila reagir e encontrar disposição para começar uma vida nova.
O narrador é onisciente e, portanto, tem total conhecimento da história e dos personagens.
O livro, que possui 25 capítulos, é uma obra realista, mas com traços naturalistas. Desse modo, possui uma escrita objetiva, isto é, sem sentimentalismos. Apresenta crítica à burguesia carioca do século XIX, pois, além da temática do adultério, visivelmente antirromântica, mostra também a decadência de uma família burguesa.
É possível perceber elementos deterministas, como neste trecho, referente à “mulata” Noca: “A culpa era do sangue, da sua raça, que menos estima os superiores quanto mais estes a afagam. Por isso ela morria de amores por Mário, um rapazinho atrevido, de gênio autoritário e palavras duras”.
A obra também apresenta traços de zoomorfização, isto é, atribuição de características animais a seres humanos: “O seu rosto alongava-se, tomava uma expressão de animal” ou “Nina procurara a companhia dos criados, de preferência a da família, habituada aos serviços grosseiros e às palavras brutas, com o seu ar de cãozinho batido”.
Por fim, o romance mostra o protagonismo de personagens femininas, descritas como mulheres fortes e capazes de serem independentes. Essa autonomia se mostra logo após a falência e o empobrecimento da família. No entanto, não se percebe um aprofundamento em torno da questão.
Veja também: Memórias póstumas de Brás Cubas – romance inaugural do realismo brasileiro
Júlia Lopes de Almeida nasceu em 24 de setembro de 1862, no Rio de Janeiro. No entanto, foi criada em Campinas. Mais tarde, quando demonstrou interesse pela literatura, recebeu o apoio do pai, um português rico e culto. Em 1886, ela foi morar na cidade de Lisboa, em Portugal, onde publicou, em coautoria com a irmã, o livro Contos infantis.
Nesse país, ela se casou com o poeta português Filinto de Almeida (1857-1945), além de publicar o livro Traços e iluminuras. Voltou ao Brasil, em 1888, e publicou seu livro mais famoso — A falência —, em 1901. Mais tarde, morou novamente em Portugal, de 1913 a 1918, além de viver em Paris de 1925 a 1931. Faleceu em 30 de maio de 1934, no Rio de Janeiro. Para saber mais sobre a vida e obra dessa importante autora brasileira, leia o texto: Júlia Lopes de Almeida.
A Proclamação da República, em 1889, encerrou o período monárquico no Brasil. Assim, o que ficou conhecido como a República da Espada teve início sob o comando do militar Deodoro da Fonseca (1827-1892), o primeiro presidente do Brasil. Seu governo teve fim no final de 1891, e seu vice-presidente, outro militar, subiu ao poder. Seu nome era Floriano Peixoto (1839-1895).
Esse presidente, apesar de ditador, conquistou o apoio dos civis a favor da república e empreendeu uma luta contra o movimento monarquista, que ainda tinha esperanças na volta do antigo regime. Além disso, durante seu governo, que durou até 1894, Floriano Peixoto teve que resistir à Revolta da Armada (1893-1894) e à Revolução Federalista (1893-1895).
Crédito da imagem
[1] Companhia das Letras (reprodução)
Por Warley Souza
Professor de Literatura
Fonte: Brasil Escola - /literatura/a-falencia-julia-lopes-de-almeida.htm