Poesia marginal é como ficou conhecida a poesia de caráter independente produzida no Brasil durante os anos 1970. Seus autores não dependeram de editoras para publicar suas obras. Por usarem mimeógrafo para tirar cópias das poesias, com o intuito de as distribuir ou vender nas ruas, esses poetas aram a ser conhecidos como a geração mimeógrafo. 5x4v3z
A liberdade formal e a ironia são características marcantes da poesia marginal. Seus autores trataram de temáticas do cotidiano, além de terem usado linguagem coloquial e antiacadêmica. Waly Salomão, Cacaso, Chacal, Torquato Neto, Ana Cristina Cesar e Paulo Leminski foram famosos poetas desse movimento literário.
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A poesia marginal é um tipo de literatura brasileira independente produzida nos anos 1970.
É caracterizada principalmente pela resistência cultural e política.
Também apresenta liberdade formal, ironia e elementos do cotidiano.
Ana Cristina Cesar, Chacal e Cacaso foram importantes autores desse tipo de poesia.
Seus poetas ficaram conhecidos como geração mimeógrafo.
A poesia marginal é um tipo de poesia produzida no Brasil durante os anos 1970. Ela ficou assim conhecida porque seus autores não dependeram de editoras para a publicação de seus textos. Eles fizeram cópias de seus poemas e as distribuíram nas ruas ou entre amigos. Para fazer as cópias, usaram um aparelho chamado mimeógrafo. Por isso, os autores da poesia marginal também ficaram conhecidos como geração mimeógrafo.
Os poetas marginais buscaram fazer uma literatura independente. Por isso, não recorreram a editoras. Dessa forma, tiveram independência intelectual e política sobre seus textos. Sua poesia tem cunho de resistência, pois pretende questionar valores morais, editoriais, sociais e políticos. Assim, por meio da poesia, a geração mimeógrafo também se opôs à ditadura militar vigente no período.
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Liberdade formal
Ironia e humor
Resistência cultural e política
Caráter independente
Inovação
Experimentalismo
Publicação personalizada
Linguagem coloquial
Subjetividade
Antiacademicismo
Subversão da linguagem
Ambiguidade
Elementos do cotidiano
Fragmentação
Uso de palavrões
Zuca Sardan (1933-)
Francisco Alvim (1938-)
Waly Salomão (1943-2003)
Torquato Neto (1944-1972)
Cacaso (1944-1987)
Paulo Leminski (1944-1989)
Chacal (1951-)
Glauco Mattoso (1951-)
Me segura qu’eu vou dar um troço (1972), de Waly Salomão
Os últimos dias de Paupéria (1972), de Torquato Neto
Preço da agem (1972), de Chacal
atempo (1974), de Francisco Alvim
Grupo escolar (1975), de Cacaso
Línguas na papa (1982), de Glauco Mattoso
A teus pés (1982), de Ana Cristina Cesar
Caprichos & relaxos (1983), de Paulo Leminski
Osso do coração (1993), de Zuca Sardan
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“O riso amarelo do medo”, de Francisco Alvim, é ironicamente antiacadêmico:
Brandindo um espadim
do melhor aço de Toledo
ele irrompeu pela Academia
Cabeças rolam por toda parte
é preciso defender o pão de nossos filhos
respeitar a autoridade
O atualíssimo evangelho dos discursos
diz que um deus nos fez desiguais
“Flores do mais”, de Ana Cristina Cesar, mostra a ambiguidade associada a acontecimentos naturais:
devagar escreva
uma primeira letra
escrava
nas imediações
construídas
pelos furacões;
devagar meça
a primeira pássara
bisonha que
riscar
o pano de boca
aberto
sobre os vendavais;
devagar imponha
o pulso
que melhor
souber sangrar
sobre a faca
das marés;
devagar imprima
o primeiro
olhar
sobre o galope molhado
dos animais; devagar
peça mais
e mais e
mais
Por fim, em “20 anos recolhidos”, de Chacal, o eu lírico expressa a inevitabilidade da mudança:
chegou a hora de amar desesperadamente
apaixonadamente
descontroladamente
chegou a hora de mudar o estilo
de mudar o vestido
chegou atrasada como um trem atrasadomas que chega
Questão 01 (Enem)
Reclame
Se o mundo não vai bem
a seus olhos, use lentes
...ou transforme o mundo
ótica olho vivo
agradece a preferência
CHACAL et al. Poesia marginal. São Paulo: Ática, 2006.
Chacal é um dos representantes da geração poética de 1970. A produção literária dessa geração, considerada marginal e engajada, de que é representativo o poema apresentado, valoriza
A) o experimentalismo em versos curtos e tom jocoso.
B) a sociedade de consumo, com o uso da linguagem publicitária.
C) a construção do poema, em detrimento do conteúdo.
D) a experimentação formal dos neossimbolistas.
E) o uso de versos curtos e uniformes quanto à métrica.
Resolução:
Alternativa A
O poema tem caráter experimental, já que não utiliza uma estrutura poética já consagrada, além de apresentar ambiguidade. O poema também possui tom jocoso, ou seja, irônico, verificado, por exemplo, em “use lentes” e na última estrofe.
Questão 02 (Enem)
Aquarela
O corpo no cavalete
é um pássaro que agoniza
exausto do próprio grito.
As vísceras vasculhadas
principiam a contagem
regressiva.
No assoalho o sangue
se decompõe em matizes
que a brisa beija e balança:
o verde — de nossas matas
o amarelo — de nosso ouro
o azul — de nosso céu
o branco o negro o negro
CACASO. In: HOLLANDA, H. B. (org.). 26 poetas hoje. Rio de Janeiro: Aeroplano, 2007.
Situado na vigência do regime militar que governou o Brasil, na década de 1970, o poema de Cacaso edifica uma forma de resistência e protesto a esse período, metaforizando:
A) as artes plásticas, deturpadas pela repressão e censura.
B) a natureza brasileira, agonizante como um pássaro enjaulado.
C) o nacionalismo romântico, silenciado pela perplexidade com a ditadura.
D) o emblema nacional, transfigurado pelas marcas do medo e da violência.
E) as riquezas da terra, espoliadas durante o aparelhamento do poder armado.
Resolução:
Alternativa D
O emblema nacional, isto é, a Bandeira do Brasil, é utilizado como metáfora da violência, já que o verde, o amarelo e o azul surgem da deomposição do sangue em matizes.
Créditos das imagens
[2]Companhia das Letras (reprodução)
Fontes
ABAURRE, Maria Luiza M.; PONTARA, Marcela. Literatura: tempos, leitores e leituras. 3. ed. São Paulo: Moderna, 2015.
HOLLANDA, Heloisa Buarque de (org.). 26 poetas hoje. 6. ed. Rio de Janeiro: Aeroplano, 2007.
Fonte: Brasil Escola - /literatura/poesia-marginal.htm